Neste post, você compreenderá que cada espécie de cacto pode possuir mais de um nome popular. As pessoas identificam plantas em uma determinada região ou cultura usando nomes populares, também chamados de nomes vernáculos.
Esses nomes são frequentemente baseados em características físicas da planta, como sua aparência, cor, cheiro ou uso.
Eu pude verificar essa variedade de nomes populares em minha pesquisa, assim como as categorias e formas de uso.
1. Cactos – nomes populares
Na etnobotânica, as plantas que são reconhecidas e nomeadas por um grupo cultural são chamadas de etnoespécies. Essas categorias são importantes porque fornecem informações sobre a relação entre os seres humanos e as plantas.
Os nomes populares nos ajudam a entender como os grupos culturais usam as plantas, quais partes das plantas são usadas e como as plantas são classificadas.
Em minha pesquisa no semiárido baiano (clique aqui), identifiquei dez espécies, as quais, segundo os informantes, têm utilização local, sendo que algumas espécies tinham várias nomes populares, como você pode ver abaixo:
Etnoespécies encontradas:
Por exemplo, a palma (Opuntia ficus-indica), uma espécie exótica de cacto comumente encontrada no Brasil, apresenta cerca de 10 nomes populares em diferentes localidades.
- Palma de gado, porque é a palma mais alimenta o gado.
- Palma orelha-de-onça, porque tem a “folha” semelhante à orelha da onça.
- Palma-normal, porque é facilmente reconhecido por pessoas
- Palma-taluda, porque tem o crescimento em forma de talo.
- Palma-grande, porque tem uma altura superior a 3m.
- Palma-lisa, porque “não apresenta muitos espinhos”.
- Palma-verdadeira, por ter sido introduzida antes de outras variedades de palma.
- Palma-comum, porque tem muitas delas na região.
- Palma-natural, porque tem a folha comprida.
- Palma-de-ovelha, porque é usada na alimentação de ovelhas.
A cabeça-de-frade (Melocactus zehntnerii) é uma espécie nativa conhecida popularmente também como croa-de-frade, por que lembra o “chapéu” usado por frades da igreja.
O mandacaru (Cereus jamacaru) é uma espécie nativa que é conhecida popularmente como mandacaru-de-boi porque é utilizada como alimento para o gado.
A palma (Tacinga palmadora) é uma espécie nativa, conhecida popularmente como palmatória.
A palma (Opuntia dilenii) é uma espécie exótica, conhecida popularmente como palma de “espinho“, porque possui muitos espinhos.
A espécie Harrisia adscendes, é um cacto nativo, só apresenta um nome popular, rabo-de-raposa, porque tem uma semelhança com o rabo de uma raposa.
O cacto Pilosocereus catingicola, uma espécie nativa, conhecido popularmente como facheiro por ser usado como fachos noturnos. Também é conhecido como mandacaru-de-facho e mandacaru-babão.
A espécie Pilosocereus tuberculatus é uma espécie nativa, conhecida como caxacubri.
As pessoas chamam a palma Nopalea cochenilllifera de palma-de-engorda porque ela é considerada a palma que engorda o gado. Também é conhecida como palma-doce porque é a palma que o gado mais gosta.
A espécie Pilosocereus gounellei, é um cacto nativo conhecido como xique-xique.
2. Categorias de usos
Classifiquei os usos em sete categorias: medicinal, lúdico, ornamental, doméstico, místico, econômico e trófico (alimentação).
As categorias medicinal e trófico (alimentação humana e de animais) estabelecem uma conexão forte entre o sertanejo e cacto. Eles ainda recorrem ao cactos para tratar diversas enfermidades e usam tanto os frutos como o cladódio na rotina alimentar.
Cercas vivas, portas e janelas e outros usos com cactos
Algumas pessoas usam a mucilagem da palma em pinturas de casa, enchem selas e almofadas com os tricomas lanosos da cabeça de frade, fazem gaiolas de passarinhos com a madeira do rabo-de-raposa, tecem aió com os espinhos do mandacaru e usam a madeira do mandacaru para portas e janelas.
Apesar de encontrar casas que tinham portas, janelas, caibros e ripas da madeira de duas espécies de mandacaru, percebi que é um recurso pouco explorado pela facilidade de adquirir madeira diretamente das serrarias. Mas, eu registrei uma casa com porta feita de mandacaru.
Interessante por que, segundo os informantes, há uma diferença entre as madeiras das duas espécies de mandacaru. O mandacaru de facho fornece uma “madeira fina e resistente para fazer ripa de casa”. As pessoas retiram do tronco do mandacaru de boi uma madeira mais leve e com maior largura para fazer caibros, portas e janelas.(veja logo a figura abaixo).
Registrei um uso doméstico muito curioso, selas de cavalo com enchimento de tricomas lanosos do cefálio da cabeça-de-frade (Melocactus sp.).Em algumas áreas das caatingas, as pessoas usavam o cefálio de cactácea do gênero Melocactus para encher almofadas e cangalhas, especialmente aquelas para jumentos.
É comum encontrar palmas de espinhos e mandacarus delimitando terrenos e residências nas estradas da zona rural de alguns municípios do semiárido baiano. Nas caatingas baianas, o quiabento (Pereskia bahiensis Guerke), por sua armadura altamente agressiva, associada ao emaranhado de seus ramos, presta-se para a construção de cercas vivas (Andrade-Lima, 1989).
3. Formas de uso
Conforme indicações populares para tratar algumas doenças, as partes dos cactos citados como remédios são: raiz, cladódio, mucilagem e espinho, sendo administrados na forma de chá, banho, pasta ou associados à alimentação.
Para um melhor entendimento e abordagem sobre o assunto, clique aqui para ver meu artigo cientifico sobre os diferentes usos de cactos no semiárido baiano.
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